Capítulo 5 (Parte 2)

Estávamos extasiados com sorrisos bobos enquanto montávamos Lança e Andarilho naquela noite. Escapamos com facilidade do quarto que dividíamos com mais 7 garotos e então eu e Charlie subimos novamente no telhado e sorrateiros levantamos as toras que soltamos de manhã e puxamos Sarah para fora. À noite nós tínhamos que tomar muito mais cuidado, eu desci primeiro pela escada e logo depois de mim veio Sarah, estava insegura, mas era corajosa.
Encontramos Thomas que tinha selado os cavalos enquanto efetuávamos o resgate. Dividimos-nos, eu e Sarah fomos em Andarilho e é claro eu fui na garupa, não tive coragem de apoiar minhas mãos em sua cintura para me equilibrar melhor, acabei segurando na sela. Charlie foi conduzindo o outro cavalo, na garupa Thomas também segurava a sela.
A noite estava belamente estrelada e fria. Partimos guiados por Sarah que nos levou por uma trilha na floresta até o rio num passo manso para não nos perdermos. Lá respiramos o ar fresco da floresta enquanto ouvíamos a melodia da noite, o som do rio ao nosso lado, o balançar das folhas com a brisa, o barulho dos cavalos respirando e os animais da floresta. Seguimos pela margem conversando sobre assuntos tolos e divertidos às vezes ficando quietos só para apreciar a noite. Eu sentia o cheiro dos cabelos de Sarah a minha frente, tinham um perfume doce, não sei se ela tinha se perfumado para o passeio, mas não achei improvável, ela era muito vaidosa, a Sra. Coppais lhe ensinara isso.
- Vocês gostam de sangue? – Ela nos perguntou descontraída certa hora e eu pude notar pela sua voz que sorria alegremente, mas não entendi a pergunta.
- Como assim sangue? – Perguntou Thomas também não entendendo.
- Vocês sabem... Quando se cortam sai sangue, não é? Vocês já devem ter provado. Gostam do sabor?
Eu não gostava muito, tinha certo gosto de ferrugem e era meio enjoativo de se lamber por muito tempo. Mas Sarah parecia gostar, ficamos discutindo isso por um tempo. Charlie lhe disse em tom de brincadeira que ela era meio doida por gostar disso, foi então que se Sarah calou, senti que ela não tinha gostado. Quis voltar.
- Ora vamos, Sarah. Não temos nem meia hora de passeio e você já quer dar no pé só por essa bobagem? – reclamou Thomas.
- Concorda com ele, Ivã? – Disse ela virando na cavalo para me encarar.
Por que raios ela me perguntou isso até hoje não faço idéia. Eu não sabia que lado tomar. Por que me envolver naquilo? Eu não queria ir embora, então respondi da melhor forma que encontrei que concordava com Thomas. Não foi uma boa idéia.
- SE VOCÊ QUER FICAR, ENTÃO DESÇA DO MEU CAVALO! PORQUE EU VOU EMBORA! – gritou irada e senti que ela começaria a chorar.
- Não Sarah, não é isso, eu...
- DESCE DO MEU CAVALO, AGORA!!! – a voz dela tinha alcançado um timbre agudo e assustador. Eu desci e ela virou o cavalo e o pôs pra galopar.
- SEU IMBECIL! – gritou Charlie para mim – POR QUE A DEIXOU IR? Thomas desça!
Thomas pulou do cavalo e Charlie disparou atrás de Sarah. Lança era mais rápido que Andarilho, eu sabia que ele a iria alcançar. Mesmo assim torcia para que não conseguisse. Imbecil? Ele não podia me chamar assim! O imbecil tinha sido ele! Ele a chamou de doida! Bem, agora eu concordava com ele. Afinal, o que tinha dado nela? No fundo eu sabia que a culpa não era nem minha nem de Charlie e também não era de Thomas. Ficamos nós dois parados ouvindo o som dos cascos na terra fofa diminuindo. Thomas começou a caminhar calmamente na direção em que seguiram os cavalos. Eu fiz o mesmo olhando para o chão.
- Essa menina está mesmo meio doida. – disse ele – A pressão deve estar acabando com ela.
- Como assim?
- Ah, você sabe. A Senhora Coppais e o padre Fixar escolheram essa tarde um noivo pra ela.
Eu tinha me esquecido. Eu tinha sido mesmo um imbecil. Não era hora de contrariá-la. Ela devia estar se sentindo péssima. Comecei a olhar para a escuridão à nossa frente tentando enxergar algo adiante, o som dos cascos já tinha sumido, agora só restava o som de nossos próprios passos.
- Você sabe quem eles escolheram? – Thomas me perguntou.
- Faz diferença? Com certeza não foi nenhum de nós.
Thomas riu, ele sabia que era verdade.
- Bem, eu sei quem é. – disse – Lembra há uns anos quando estávamos nos mudando pra cá? Naquelas carroças?
- Lembro. – respondi agora curioso, o que isso tinha haver com o casamento de Sarah.
- Ótimo. Bem, lembra que paramos em frente a um casarão onde morava um tal Duque que ficou preocupado com a nossa vinda pra cá?
Eu ri, eu lembrava sim.
- Foi aquele que nos fez pensar que a Sarah era uma espécie de menino esquisito?
- Esse mesmo. Lembra dos filhos dele? O mais velho é o aspirante a noivo da Sarah.
Fiquei quieto, eu lembrava, era pomposo como o pai. Com ar de superior, o rosto eu não lembrava muito, mas era bem mais velho que nós na época. Devia ser uns 10 anos mais velho que Sarah. Pra mim era uma diferença muito grande.

Depois de mais um tempo caminhando ouvimos cascos se aproximando lentamente. Charlie e Sarah estavam voltando. Esperamos eles chegarem perto.
- Vamos continuar nosso passeio rapazes. – disse-nos Charlie.
Voltamos calados para nossas garupas. Os cavalos voltaram a andar num ritmo manso e nós continuamos calados até que resolvi falar com Sarah e me aproximei para sussurrar ao seu ouvido.
- Me desculpe. – eu disse baixinho, sabia que não era minha culpa, mas faria de tudo por ela, não me importava quem era o culpado.
Ela suspirou longamente e virou o rosto para me beijar a bochecha.
- A culpa foi minha. – ela me sussurrou em resposta e eu sorri.

Continuamos a cavalgar em passos lentos pela margem do rio. Em meio a escuridão ninguém podia ver, mas eu ainda sorria, abobalhado e feliz. Afinal, o meu estrago não tinha sido tão grande assim. Parei de sorrir quando me lembrei do que tanto afligia Sarah, isso também me atormentaria durante um bom tempo.
Quando vimos que o passeio não ia prosperar muito resolvemos voltar. Charlie perguntou se Thomas queria conduzir o cavalo e eles trocaram de lugar.
- Quer ficar no comando? – perguntou-me Sarah melancólica.
- Não se importa de ficar na garupa?
- Não.
Eu achei que ela estava me testando, mas não estava. Ela desceu do cavalo e eu pulei do lombo para a sela e a ajudei a subir. Suas delicadas mãos seguraram minha cintura quando ela se ajeitou atrás da sela.
- Podemos correr? – perguntou abestalhadamente o sempre alegre Thomas e Charlie concordou. Também me pareceu uma boa idéia.
- Você se importa? – disse eu à Sarah.
- Não, seria divertido. – ela ainda estava melancólica, mas pareceu sorrir.
- Então vamos apostar uma corrida! – gritei para meus companheiros. – Três... Dois... Um... JÁ!!!
Saímos num galope desvairado que nos jogou com força para trás. Seus corpos subiam e desciam em incrível velocidade, era a primeira vez que os via correr assim. Eu soltara as rédeas e me agarrava à sela desesperado enquanto Sarah abraçava minha cintura com força para não ser lançada na escuridão. O vento soprava intensamente em direção a nossos rostos, ao nosso lado uma dupla animada gritava e ria energicamente e Sarah se juntou a eles. Senti às minhas costas o vibrar de seus risos e alegria, foi então uma gigantesca sensação de êxtase me envolveu num doping de pura felicidade. A vida não podia ser mais bela!
Os cavalos desgovernados corriam velozmente enquanto nós quatro ríamos alto em nossa sublime liberdade. Ríamos quando ficávamos para trás, mesmo com a zombaria da dupla que nos passava. Gargalhávamos quando nosso cavalo arranjava mais energia e ultrapassava nossos amigos. Rimos e gritamos quando eles erraram a curva e se embrenharam na floresta e nós fomos atrás. Não conseguíamos parar de rir nem quando os galhos das velhas árvores prendiam em nossos cabelos e nos arranhavam. A mata impedia que os cavalos continuassem galopando, mas não os impedimos que avançassem cada vez mais. Só parávamos de rir para ganhar fôlego e rir mais, era contagioso.
- Onde... Onde aqueles dois estão? – Sarah perguntou quando paramos e soltou minha cintura, ainda estava meio sem fôlego por tanto rir.
Respirei fundo e respondi com o fôlego faltando – Não sei... – puxei mais ar – Perdi eles de vista logo depois que entramos aqui... CHARLIEEE? ! ? THOMAAAS? ! ?
Agora que tínhamos parado de rir a floresta parecia assustadora, soturna e gelada. Sarah se juntou a mim e continuamos gritando seus nomes sem que eles nos respondessem. Isso era ainda mais apavorante. Sarah me segurou novamente fincando as unhas na minha cintura.
- Vamos voltar, por favor. – senti o medo na sua voz. Concordei e tentei manobrar Andarilho entre os galhos e árvores que nos cercavam.
- Acho melhor eu descer do cavalo e ir puxando. – disse.
- Não! – ela me pediu e fincou mais forte as unhas em mim – Por favor, fique aqui... Fique comigo...
Em poucos segundos eu vivera uma salada de emoções. Primeiro fiquei vaidoso, confiante e corajoso, por Sarah ter dito aquilo. Depois eu repetia incessantemente em minha mente o quanto a amava e que era maravilhoso estar à sós com ela, mesmo que suas mãos me machucassem a carne. Então me senti impotente e desorientado, para onde ir? Como tirar-nos dali? Por fim também senti medo, um medo terrível daquele lugar, medo provocado pela noite, por Sarah, pelo som dos animais que estavam ali e pelas malditas histórias de suspense que Alfie nos contava e que sempre, sem exceções, envolviam aquela sinistra floresta na qual nos encontrávamos.

Capítulo 5 (Parte 1)

E eu sabia ser feito de bobo, não sei se estava mais frustrado ou feliz, eu a beijei, ela me enganou. Porém se pudesse, faria tudo novamente. Sarah depois se mostrou um pouco magoada porque eu a beijei, eu não entendi, ela não tinha pedido?
- Era um teste seu bobo, não era pra me beijar.
- Então porque não desviou?
Ela ficou calada por um tempo.
- Você me pegou de surpresa...
Agora eu estava muito confuso pra saber se era mesmo verdade se aquele beijo tinha sido especial somente pra mim ou não. Estávamos voltando, andando lado a lado sobre a grama do quintal e ela agora falava como se nada tivesse acontecido, eu não me expressava muito, mas procurava disfarçar minha tristeza confundida com meu estado extasiado. Sem nenhum dos dois dizer qualquer coisa sobre onde íamos, acabamos no estábulo.
O espaço era amplo e aberto, chão de pedra, armação de madeira, com 5 baias do lado direito. Na primeira baia estava o cavalo de Sarah, um Palomino imponente e forte. Logo depois estava Lança, um belo cavalo negro calçado de brando nas quatro patas até os joelhos e um sinal, também branco, na testa. Mais a diante estava o asno, gordo e cinza com um jeitinho alegre que só os burros tem. A última baia estava vazia, digo, de animais, usávamos-a para guardar ferramentas e ração para os animais.
- Olá Andarilho, como estás? – Sarah perguntou ao cavalo palomino da primeira baia, pegou a raspadeira e entrou na baia para começar a escová-lo. Era seu cavalo, morria de ciúmes dele, brigaria com qualquer um que lhe montasse sem sua permissão, levei anos para notar o quanto Sarah era mimada. – Ivã, pegue pro Andarilho um pouco de milho, por favor. – pediu-me sorrindo gentilmente.
Fui até o saco, despejei de má vontade um pouco de milho no pote e o entreguei a Sarah, ela o despejou no cocho e continuou a acariciar seu animal, ao nosso lado Lança relinchava indignado pelo nosso desinteresse por ele, com pena também lhe servi um pouco de milho. Sarah me perguntou o porquê de eu estar tão calado, há! Como se não soubesse o motivo, ela sabia muito bem. Ficamos ali, calados distraindo-nos com os cavalos para não entrar em qualquer assunto, até que ouvimos passos se aproximando.
- Olá Ivã. Sarah? – era Thomas, tinha acabado de entrar e ao seu lado Charlie.
- Olá. – cumprimentou Charlie - A Senhora Coppais nos mandou cuidar dos cavalos. Aliás, ela está como louca atrás de ti, Sarah, disse-nos que você fugiu da vista dela mais uma vez hoje.
- Depois eu me resolvo com ela. E podem deixar que deste eu cuido. – disse Sarah com um sorrisinho, já fazia um tempo que Sarah e meus amigos se conheciam, poderiam se considerar amigos, mas Sarah ainda parecia insegura perto deles, principalmente de Charlie, falava com ele quando podia, mas não o olhava nos olhos, embora sempre o observasse quando ele não estava olhando.
Eu invejava Charlie nestas horas, eu queria não perceber, não saber que ela estava apaixonada por ele. Eu fingia que era mentira, ela também fingia, não contaria isso nunca a ninguém, era muito orgulhosa para isso. Charlie acenou em concordância com a cabeça pra Sarah e foi cuidar de um cavalo negro, Charlie era o tipo de garoto que nunca se sabia o que estava pensando ou sentindo realmente, por trás de seus atos havia sempre algo que nos fazia pensar qual era sua verdadeira intenção.
- Seria bom se pudéssemos fazer um passeio com eles qualquer dia, o que acham? – disse Thomas indo à direção ao asno, e se dirigindo ao asno começou a falar com uma voz retardada – Ia gostar, não ia burrinho?
- Acho que a senhora Coppais não deixaria – disse Sarah
- Por que não fala com ela Ivã? A Senhora Coppais confia tanto em você. – zombou Thomas
- Sarah poderia usar de seu charme feminino para isso. – comentou Charlie
- Mas fácil o Ivã usar do charme feminino – riu-se Thomas
- Meus caros, vocês não tem idéia o poder de sedução de nossa ilustríssima companheira. – sorri e ela me lançou um fulminante olhar cortante e desaprovador.
- Não duvido caro Ivã, não duvido nadinha. – disse Charlie encarando-a, e ela corou e se escondeu atrás do cavalo sem graça, eu notei, me senti idiota por ter dito aquilo e mais idiota ainda por Charlie ter conseguido deixá-la encabulada por minha culpa, mentalmente eu pensava: Maldição!
- Se bem que charme feminino não deve funcionar de mulher pra mulher... Funciona Sarah?
- Duvido disso Thomas, - falou ainda detrás de seu animal – Comigo não funcionaria. Seria perda de tempo falar com ela... Bem... O que acham de uma pequena aventura?
Acabamos decidindo que faríamos um pequeno passeio à noite sem a permissão da Sra. Coppais, nem nos arriscaríamos à pedir. Mas isso não era para aquele dia, precisávamos melhor planejamento, até porque seria preciso resgatar Sarah do seu quarto onde ela sempre dormia trancada e as chaves estavam sempre acompanhando a Sra. Coppais. Precisávamos de um plano.
Continuamos a conversar enquanto tratávamos dos animais, hora eu ajudava um, hora ajudava outro, nesse vai e vem desligado, fazia as coisas de modo automático, meio em transe, voltei a pensar no beijo, só pensava nele, agora me achava meio idiota por isso, será que Sarah também pensava nele? Eu queria beijá-la novamente, alias, queria beijá-la muitas vezes mais.

Era comum que Sarah passasse a maior parte da semana longe de mim. Víamos-nos menos depois do beijo, falávamos pouco, disfarçávamos nossos olhares encabulados, por alguns momentos pensei que não éramos mais amigos e me senti mal por isso. Pareceu-me que ela me evitava, ou seria eu que a evitava?
É impressionante como nós, seres humanos, temos a irritante mania de complicar as coisas simples, eu poderia simplesmente me declarar. E seria tão bom se ela me aceitasse, nada nos impediria de ficar juntos, fugiríamos, teríamos uma casinha pequena, do nosso jeito e ninguém nos incomodaria lá, seria nosso lugar, e só nosso, e pra lá fugiríamos e nos esconderíamos deste mundo que nunca nos fez bem. É impressionante também como nós, seres humanos, temos a irritante mania de sonhar muito alto, pois eu sabia, esse sonho era irreal.
Eu me sentia tão ridículo pensando sobre o amor, era algo só definido nas histórias fantasiosas de Alfie, era fantasioso demais amar, parecia que só eu amava, ao mesmo tempo achando que ela me amava e sabendo que era mentira. Eu as vezes me achava pessimista, mas não era. Em minha mente Sarah era a garota ideal, mas como todo ideal é só uma idéia nossa, e eu só fui descobrir isso bem tarde, Sarah não era tão perfeita como eu a via. Mas ela era a minha idéia preferida e continua sendo.

Ficamos uns dias sem vê-la, Sarah não tinha conseguido escapar de uma surra e um castigo. A Senhora Coppais estava preocupada com o futuro dela vivendo entre tantos meninos, dizia que teria que casá-la logo e quando o padre Fixar apareceu na terça-feira, como de costume ela discutiu o assunto com ele. Fiquei indignado ao saber que o padre tinha concordado. Logo ele que era tão nosso amigo. Ele ia trazer na próxima semana uma lista com os candidatos.
O que não faltavam a Sarah eram pretendentes e como a Sra. Coppais era sua responsável ficou encarregada de escolher um bom partido para ela. O padre Fixar conversou com Sarah, fiquei sabendo por um dos garotos, ela gritou e chorou, não queria se casar de forma alguma. Eu já tinha conversado o assunto com ela, Sarah não queria um marido arranjado pela Senhora Coppais, queria poder escolher um que amasse. Eu já sabia qual era sua escolha, não era eu. Mas eu não estava ligando muito pra isso quando ela me contara, era minha melhor amiga, por enquanto era o que bastava.
Reunidos naquela manhã fria de primavera às 05h30min eu, Charlie e Thomas estávamos reunidos com os demais garotos tomando nosso desjejum, leite e pão passado, já duro, do dia anterior. Nada que fosse novidade, mas conversávamos animadamente sussurrando sobre nosso passeio as escondidas ainda sem dia marcado, mas ainda tínhamos que bolar uma forma de fuga para Sarah para nosso passeio a cavalo. Eu continuava preocupado com a lista que o padre Fixar ia trazer, ele viria naquele mesmo dia à tarde.
Os rostos à mesa que nos observavam eram familiares, já faziam 6 anos que eu me juntara aos meninos, mas a verdade é que não éramos muito unidos, haviam grupos de 3 ou 4 meninos, normalmente se união pela idade ou por laços de sangue, os três garotos Gorson eram um desses casos, tinham chegado a uns 4 anos e andavam sempre juntos, tinham mais ou menos a nossa idade, mas eram fechados no seu mundinho, Thomas era da idade do irmão do meio e já tentara ser seu amigo, sem sucesso. À cabeceira da mesa estava Alfie, nesses 6 anos estava um pouco mais careca e gordo, o que, quando eu o conheci, acharia impossível.
A Sra. Coppais caminhava entre nós, às vezes espichando os ouvidos para tentar nos entender. Com o passar do tempo eu até passei a gostar dela, assim, ela era uma boa pessoa, só rabugenta e rancorosa, mas no fundo ela era boa e simples, embora no momento em que a vi naquele dia estava muito amargurado com ela naquele dia por conta do casamento que ela queria arrumar para Sarah. Em dias comuns eu sorriria e lhe desejaria um bom dia, mas dessa vez eu procurei ignorá-la e não falar com ela.
Todas as manhãs ela nos dava tarefas como, cuidar do jardim, animais, casa, etc. Aos garotos menores eram sujeitas tarefas mais simples como lavar a louça, varrer a casa e tirar poeira dos móveis, aos maiores as mais difíceis como consertar móveis e arar da pequena plantação no fundo do jardim. Eu e Charlie ficamos com a responsabilidade de consertar as telhas que tinham quebrado com um galho no dia anterior, estávamos reunidos na cozinha quando aconteceu, um estrondo que poderia ser confundido com o som da tempestade lá fora. Corremos para um dos quartos no segundo andar e nos deparamos com as camas cobertas com a água da chuva que ainda encharcava as encharcava, telhas quebradas e pedaços do que seria um galho absurdamente grande do carvalho do quintal.

- Ainda está escorregadio, - me alertou Charlie ao sumir por cima do telhado – Acho melhor deixarmos isso para amanhã. – ele gritou.
- Melhor não. – respondi já chegando ao final da escada que encostamos à parede para chegar ao telhado. – A Sra. Coppais ficaria muito zangada.
Passei as ferramentas para Charlie que em seguida me puxou para ajudar-me a subir no telhado, ao nosso redor tudo parecia meio nublado. Estava realmente perigoso, o telhado tinha criado uma espécie de limo que nos fazia derrapar e estava sujo pelo que pareciam anos de folhas. Caminhamos agachados tomando cuidado para não estragar ainda mais as telhas, elas tinham mais ou menos um palmo meu de largura e um pouco mais que meu braço de comprimento, por sorte o telhado era só ligeiramente inclinado. Arrastamo-nos até o rombo e olhamos o quarto abaixo onde alguns meninos limpavam a bagunça causada pela tempestade, os cumprimentamos e pusemos a por toras e a martelá-las num mesmo ritmo mecânico até que o único vestígio do acidente com o galho fossem as novas toras de madeira que se destacavam no telhado, agora já não estava nublado e o céu azul acima de nós esbanjava um sol branco e agradável.
Enquanto voltávamos e começamos a descer pela escada lembrei-me de uma coisa.
- Charlie, volte! Tive uma idéia.
Subi de novo ao telhado e olhei a minha volta calculando por baixo daquela multidão de telhas os cantos da casa. Alguns passos para frente... Virando a direita... Mais alguns passos... Comecei a remover os pregos de algumas telhas com o martelo, enquanto isso Charlie surgia novamente no telhado.
- O que está fazendo? – Perguntou-me.
- Procurando o quarto da Sarah.
Ele veio a mim e se abaixou começando a me ajudar a retirar as telhas. Quando tínhamos consertado o telhado notei que as vigas que sustentavam as telhas eram distantes o suficiente para que uma pessoa pudesse passar. A minha esperança é que desse para ver Sarah. Retiramos uma telha e olhei para baixo, era o quarto dela. Começamos então a tirar mais algumas.
O espaço que eu bem conhecia da época que a Sra. Coppais ficara doente continuava o mesmo, com a cama de Sarah no centro com mesinhas, uma de cada lado, um armário à esquerda e uma penteadeira com uma cadeira tripé à direita perto da grande janela com um parapeito de onde Sarah normalmente observava a vida lá fora. E lá estava ela, com um vestido branco simples, mas que nela parecia o mais belo que eu já tinha visto, seus cabelos negros estavam pretos por uma fita vermelha num rabo de cavalo. Ela olhava para cima, com certeza tinha percebido o estranho movimento sobre o teto. Assim que me viu abriu aquele claro sorriso surpreso. Ah! Como era belo aquele sorriso! – Ivã!!! – chamou-me alegre. – Eu estava agoniada sem você por tanto... – Ela parou de falar assim que Charlie surgiu ao meu lado.
- Oi Sarah. – disse ele sorrindo à minha esquerda.
- Ah... Oi. Como... Como chegaram aqui?
- A senhora Coppais nos mandou consertar o telhado, soube do que aconteceu ontem à noite no quarto do outro lado? – Charlie respondeu.
- Sim, ela me contou hoje quando me acordou. Não é meio perigoso ai?
- Oras... Meninos travessos aprendem a se virar. – Ele piscou e ela riu.
- Acha que consegue subir aqui, Sarah? – eu disse meio que tentando interromper os dois. E ela pareceu ter me notado novamente.
- Não sei. – Ela olhou para os lados a procura de algo – Talvez... Talvez se eu puder essa cadeira em cima da cama...
Ela pegou a cadeira da penteadeira e arrastou o colchão da cama para por a cadeira ali. Subiu na cadeira e se pôs nas pontas dos pés esticando os braços, suas mãos ultrapassavam um pouco o telhado, era o suficiente para que nós a puxássemos para cima. E foi o que fizemos. Sarah não era pesada, mas não foi fácil, tomamos o cuidado de tentar não fazer muito barulho, por fim, ela conseguiu se sustentar na beirada do buraco que abrimos e assim nós terminamos de puxá-la pela cintura com algumas palavras de reprovação, mas ela mesma entendeu que não tinha outro jeito.
Ela sentou-se ao meu lado, fiquei entre ela e Charlie. Lá ficamos até recuperarmos o fôlego pelo esforço, eu evitava olhar para ela, continuava meio envergonhado. Do telhado víamos a copa das árvores mais altas, e por detrás delas as montanhas nos cercavam por todos os lados, víamos o caminho do rio de águas claras e sentíamos o vento batendo em nosso rosto suado, o sol estava quente, mas agradável. Senti que podia ficar ali para sempre e sorri feliz por Sarah estar ao meu lado. Ela pegou minha mão.
- Isso foi bem legal! É muito bonito aqui em cima, não acha? – disse ela sorrindo e me encarando, sorri e acenei em resposta. Ela desviou o olhar pra Charlie e riu. – Agora já sabemos como fazer aquele passeio noturno.

Capítulo 4

- Admita Sarah, não consegue ser sedutora! – disse eu risonho.
Era a época mais feliz de minha vida. Estávamos lá, como fazíamos todas as tardes que podíamos, eu e Sarah, escondidos atrás de um grande arbusto de pequenas folhas muito verdes. Ficávamos segredando conversas sobre todos tipos de assunto enquanto as folhas nos acobertavam de olhares e ouvidos repressores. Eu em meus 15 anos tinha agora um nariz anormalmente grande. Ela acabara de completar 14 e estava inconformada com as palavras que eu acabara de dizer, era sempre assim, espontânea demais comigo, era minha melhor amiga e eu o dela, pelo menos era o que ela dizia, ela era mais amiga que Charlie e Thomas, com quem sempre conversei, ela era mais.
Quando completamos nosso primeiro mês naquela casa, já tínhamos certeza que a criança de Bianca era uma garota. Thomas, Charlie e eu então fizemos de tudo para conhecê-la e alguns meses depois o padre Fixar tinha decidido que ela viveria como uma criança normal e que era injusto mantê-la prisioneira de seu próprio quarto, é claro, nós demos uma pequena ajuda para esse pensamento, embora a Senhora Coppais fosse sempre irredutível e não concordasse, ela acabou cedendo que Sarah conhecesse seus inquilinos e vice-versa.
A primeira vez que ela foi apresentada à nós estávamos sentados no chão da sala e o padre explicava a nós a situação, disse que ia nos apresentar a verdadeira dona da casa e que confiaria em nós para nos comportássemos da melhor maneira possível. Foi até bem rápido, a senhora Coppais à trouxe, uma menininha linda de rosto redondo, cabelos negros e olhos claros, todos à cumprimentaram e ela nos cumprimentou. Adoráveis minutos em que eu a vi de perto pela primeira vez, ela nem tinha me notado, eu estava sentado no meio dos garotos, realmente não chamava muita atenção. Mas ela notou Charlie, acho que ele chegou atrasado com esse propósito, tinha ido buscar Alfie no estábulo, mas havia demorado mais do que o convencional, ela estava quase indo embora quando ele surgiu pela porta fazendo barulho. Charlie parecia sempre pensar em tudo, ou ao menos eu pensava que ele planejava tudo, sempre no lugar certo, na hora certa, ele sabia chamar atenção sem parecer querer isso. Eu o invejava, lutava contra isso, mas sim, eu o invejava.
Comecei a tomar mais contato com Sarah quando a Sra. Coppais ficou doente. Nessa época ela já confiava em mim o suficiente. Ela se mudou pro quarto de Sarah, mas não podia cuidar dela, então me mandava levar e trazer refeições e o que mais fosse preciso. Confiava mais em mim do que no próprio Alfie, mas o único em que confiava inteiramente era o padre Fixar. Mas ela se arranjava com minha ajuda já que o padre tinha muitas coisas a fazer além de nos visitar.
Fiquei um pouco mais de uma semana levando e buscando bandejas, das vezes que a Sra. Coppais adormecia nós conversávamos, normalmente ela começava os diálogos, meu nome, como estava o dia lá fora, relatos dos meninos, como eram, como se chamavam. As vezes ela escrevia num livro, eu não sabia ler, muito menos escrever, essa foi uma das coisas que mais me encantou nela. Uma vez o padre tentou ensinar-nos a escrever, ia duas vezes por semana até a antiga casa de Alfie e lá nos ensinava, ou tentava, acabou desistindo por falta de interesse da nossa parte. Thomas e mais um garoto eram os únicos que davam atenção as aulas, eu e Charlie achávamos perda de tempo, embora na época não fossemos amigos. O resultado era que Thomas era o único de nós que sabia ler e escrever, às vezes o padre o trazia algo para ele praticar, normalmente passagens religiosas, algumas ele mesmo escrevia já que as passagens eram em latim e já era suficientemente difícil ler, ler em outra língua era demais para qualquer um de nós. Soube eu que ele também levava passagens para Sarah, o latim dela era razoavelmente bom. Eu me arrependi muito de não ter dado importância à aquilo quando vi Sarah escrevendo, ela me contou que tinha sido o padre que a tinha ensinado e que ela estava escrevendo relatos da sua história, mas eu não poderia ver, ninguém podia além dela. A senhora Coppais não sabia, embora se soubesse não faria muita diferença, pelo que Sarah tinha dito ela também não sabia ler.
Quando a senhora Coppais melhorou, eu bem queria que não tivesse melhorado, eu passei a não ver Sarah novamente. Foi quando ela começou a usar sua persuasão, implorava para o padre que a liberasse para conviver conosco uma vez por semana, o padre sempre foi muito gentil e não resistia aos pedidos de uma garotinha prisioneira por isso acabou liberando, mas teria que estar sempre acompanhada. Mesmo com esse ultimo item a senhora Coppais estava inconformada e quando Sarah saia do quarto o tempo fechava para a Sra. Coppais, tudo era motivo de reclamações e castigos.
Com o tempo Sarah passou a sair duas ou três vezes por semana, algumas andava a cavalo, era um dos seus passatempos preferidos, outras vezes se juntava a nós para ouvir histórias de Alfie, mas as melhores histórias ela perdia, pois com a Sra. Coppais por perto Alfie não se arriscava a contar histórias encantadas. Sarah só conversava conosco quando os ouvidos da Sra. Coppais estava razoavelmente longe ou quando ela estava aos cuidados do padre Fixar, às vezes ela sumia da vista dos dois e quando a Sra. Coppais notava ela ficava mais de uma semana sem nos ver. Até o padre convencê-la a liberar Sarah novamente. Sarah queria cada vez mais liberdade, não sabia como era privilegiada por ter um pouco dela.
Sarah nunca se conformava, tinha um espírito aventureiro como poucos, as histórias de Alfie as inspiravam muitas vezes, as histórias de aventura eram as suas preferidas, principalmente quando envolviam algum romance, romances proibidos, ela os adorava. A Sra. Coppais, por sua vez, as detestava, às vezes interrompia a história ou levava Sarah pro quarto quando começava uma parte que a desagradava, ela e Alfie não se davam muito bem, embora convivessem sem maiores problemas, o padre era quem realmente mandava naquela casa, diga-se de passagem, na aldeia também, intermediando as discussões e chegando a um acordo.
Conforme a liberdade de Sarah foi crescendo ela foi tornando-se minha melhor amiga, afinal eu era o preferido da Senhora Coppais, sempre prestativo e educado, interesseiro também, não nego, fazia isso sempre para poder ficar o mais perto possível de Sarah e após conquistar a confiança da velha Coppais, eu era a melhor pessoa que ela indicaria para ser amigo de Sarah, e mesmo assim ela estava sempre atenta a nós.
- Eu sei ser sedutora quando quero!
Ela era sedutora mesmo sem perceber, a verdade era que Sarah já tinha me conquistado há muito tempo, e não só por ser uma garota, como a menina da aldeia de anos atrás, eu estava completamente apaixonado! Por anos e anos, por dias e dias, e em todas horas, parecia que eu não pensava em mais nada. E ao mesmo tempo em que comigo ela era tão natural eu sempre era receoso quando estava com ela, embora não demonstrasse. Tinha me tornado a melhor pessoa para esconder sentimentos. Agora não me faz sentido porque eu os escondia dela, mas acho que eu tinha medo de contar o quanto ela me era importante. Eu procurava irritá-la e desprezá-la às vezes e ela me retribuía da mesma forma o que para mim era terrível, no entanto nem eu nem ela conseguíamos ficar zangados um com outro por mais de umas horas. Eu já tinha me acostumado com sua voz zombeira e sempre inconformada, com aqueles grandes, doces e penetrantes olhos azuis, a pele branca como inverno e quente como verão e seus sedosos cabelos negros, o jeito sempre em metamorfose, mas sempre aquele mesmo jeito pelo qual eu me apaixonara e do qual não me imaginara sem.
- E como sabe, eim? Já seduziu alguém? – respondi.
Eu realmente esperava que não, embora soubesse que era inevitável que outros se apaixonarem por ela, embora eles não fossem amá-la tanto quanto eu a amava, isso era impossível. Eu tinha medo que ela chegasse perto de mais algum garoto, até mesmo Charlie e Thomas, principalmente Charlie. E é claro que ela tinha me seduzido, mas eu não a deixaria descobrir, não era confiante em mim o suficiente, mesmo que perto dela eu bancasse o superior.
- Não deve ser difícil, ser uma mulher já é meio caminho andado. – disse-me com aquele sorrisinho irônico. O sol quer penetrava entre as folhas do arbusto que nos escondia iluminava seu rosto, eu não cansava de admirá-lo, mas tinha que continuar com nossa pequena encenação para nós mesmos.
- Mulher? É apenas uma garotinha! – Zombei tentando desafiá-la, dizendo sem palavras, “Mostre-me que é mulher!”.
- Há! – riu-se tentando demonstrar que eu-não-sabia-de-nada, mas eu percebi que ela não estava segura de si também, era um teste, ela sabia, eu a estava testando e ela ia me testar também.
- Nem mesmo parece uma garotinha, - provoquei - age mais como um menino! É pior que Charlie e Tho...
- Cala-te! – ordenou-me com uma autoridade que me surpreendeu, mas de um jeito doce, quase um pedido, ela me encarava. – Cala-te... E dê-me um beijo.
E uma corrente de pensamentos irrompeu numa corrente incoerente. Fora mais rápido do que eu pensara, não estava preparado. Parei. Gelei. E o meu coração disparou. Havia um frio no meu estômago. De meu corpo subiam labaredas de calor que me dominavam, acho que corei. Meus pensamentos ficaram ausentes.
- Quer mesmo um beijo? – E com isso eu dizia, QUEIRA um beijo!
- Dar-me-ai um beijo? – Ela agora estava falando daquele modo cortes e complicado típico dos nobres que a ensinavam e que eu ainda não entendia bem, mas me encarava e sua boca não tinha se fechado totalmente, ela queria um beijo!
- Dar-te-ia tudo que me pedisse. – Arrisquei, me pareceu bom, mas minha voz tinha um ar de imploração, Peça-me um beijo!
- Deu-me então, tudo que eu sempre quis. – O que? Eu não tinha entendido, era confuso! Confuso! Completamente confuso, então eu interpretei da maneira que conseguia, da maneira que eu conseguia raciocinar, eu nem mesmo conseguia raciocinar! Da maneira que melhor me convinha. Eu a beijei.
Fechei meus olhos e deixei meus lábios encontrarem os dela, e só pensei naquilo, e um turbilhão de emoções me vieram e eu me concentrava só naquele beijo, naquela pressão sobre meus lábios, o resto eu não me importava, o resto, não existia. Uma onda gelada atravessava meu estômago devagar. Permaneci ali até que o fôlego me faltou, eu até mesmo me esqueci de respirar. Não tinha durado nem 1 minuto, mas foi o 1 minuto mais longo da minha vida. Afastei-me, ainda com os olhos fechados e ofegando devagar, com o coração explodindo em minha boca, eu sentia minhas pulsações por todo corpo, eu ouvia minha respiração em sincronia com a de Sarah, eu sentia o calor dela. Ela era mulher do jeito que eu nunca imaginara uma mulher, era mais do que eu jamais imaginara.
E quando abri os olhos ela ainda estava lá, de olhos fechados, de joelhos na grama a poucos centímetros de mim, com o rosto sereno e feliz, uma brisa balançava seus cabelos, eu queria beijá-la novamente. Tinha que beijá-la novamente. Ia fazer exatamente isso quando aqueles olhos azuis me encararam novamente, doces e ingênuos. Eu não soube o que fazer, eu não conseguia pensar. E em um instante o rosto sereno em ingênuo ganhou uma aparência zombeira, era a Sarah minha amiga de volta e ela me disse: Eu disse que sabia ser sedutora!